No momento em que o Brasil inicia mais um ano letivo com uma série de desafios pela frente, é preciso responder a uma pergunta: estamos investindo corretamente os nossos recursos para atingirmos uma educação de qualidade? A resposta, ou pelo menos parte dela, pode estar na análise dos resultados do Pisa de 2016. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que testa conhecimentos em matemática, linguagens e ciências de alunos de 15 anos em mais de 70 países é tido como um dos marcos da aprendizagem internacional.
Comparado aos demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ainda investe pouco em seus alunos. Em 2016, esse montante era de US$ 38.190 por ano para cada estudante, apenas 42% da média de investimento dos outros países que fazem parte da OCDE, um montante que chegava a US$ 90.294 por ano. Essa disparidade diminuiu de 2012 para cá. Naquela época, o governo brasileiro investia por ano em seus alunos menos de um terço da média da OCDE.
No entanto, esse aumento de investimento na educação brasileira (mesmo com um considerável abismo na comparação com outras nações) não resultou em melhores resultados no Pisa. Na verdade, se considerarmos o ranking dos países que fazem o teste, a posição dos alunos brasileiros piorou. Em 2012, o Brasil estava em 59º lugar e caiu quatro posições na edição de 2016. Atrás da gente no quadro estão Peru, Líbano, Tunísia, Macedônia, Kosovo, Argélia e República Dominicana.
Com esses números em mãos podemos fazer outra pergunta: como investir melhor nossos recursos? Especialistas sugerem que devemos apostar em boas práticas para a educação e basear as políticas públicas em métodos comprovados cientificamente.
E quais seriam eles?
Investir na formação dos professores para uma educação de qualidade
Um dos principais desafios para a educação brasileira é garantir formação adequada justamente para quem é responsável por formar os alunos. O país derrapa ao não oferecer condições para que professores de disciplinas como matemática ou física, por exemplo, tenham se graduado em algum curso superior na área de Exatas. De acordo com um levantamento recente realizado pelo Ministério da Educação (MEC), quatro em cada dez professores brasileiros simplesmente não têm a formação adequada para ensinar os conteúdos que estão ensinando aos seus alunos. Em números absolutos, a pasta confirma que, dos 518 mil professores da rede pública, aproximadamente 200 mil deles tem como função ensinar matérias de áreas diferentes das quais foram formados para lecionar. Outro número também assusta: cerca de 12% dos professores brasileiros sequer concluíram o ensino superior e, portanto, não tem um diploma de graduação.
A baixa qualidade na formação dos docentes brasileiros é acompanhado por dois outros fatores que se retroalimentam: os baixos salários da profissão e o baixo padrão de contratação. Ou seja, o país não consegue formar os professores adequadamente porque não oferece um emprego justo e bem remunerado a eles. Movimentos sociais ligados a educação enxergaram o problema e a formação de professores passou a ser um compromisso do governo para os próximos anos. De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014 e que traça metas que devem ser atingidas até 2024, ao menos metade dos professores da educação básica deverão ter algumas pós-graduação até lá. Hoje, segundo o MEC esse índice é de 31%.
Focar nas capacitações que funcionam
Governos municipais, estaduais e federal, além das instituições privadas costumam investir em cursos de capacitação, seminários e treinamentos para os professores. Mas nem sempre essas práticas surtem efeitos esperados, como a melhoria no processo de aprendizagem e adoção de novas ferramentas na rotina escolar. Outra boa prática para a educação é investir em cursos que realmente façam a diferença para os professores – e, dessa forma, para toda a comunidade escolar.
Para o Observatório do PNE, uma espécie de plataforma online que monitora os avanços e retrocessos da educação com base nos compromissos do Plano Nacional de Educação, a deficiência na formação inicial dos professores brasileiros é “um dos grandes entraves na melhoria da qualidade da educação”. A solução apresentada pela plataforma é o investimento na formação continuada, que “representa um grande aliado, na medida em que possibilita que o professor supra lacunas na sua formação inicial ao mesmo tempo em que se mantém em constante aperfeiçoamento em sua atividade profissional”.
Algumas alternativas podem ser encontradas em programas oferecidos pelo próprio poder público, como a Rede Nacional de Formação Continuada para Professores da Educação Básica, o Programa de Alfabetização na Idade Certa, a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, cursos gratuitos e até mesmo parcerias com instituições privadas que têm projetos voltados para a educação, como as fundações Estudar, Lehman, Itaú, Unibanco, Ayrton Senna, entre outras.
Recompensar escolas por bons resultados
Outra boa prática que poderia funcionar como estímulo para alunos, professores e gestores de ensino no Brasil é a recompensa por bons resultados. Hoje em dia alguns indicadores que conseguem comparar o rendimento em determinados índices e avaliar os resultados entre diferentes instituições de ensino. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo, foi criado em 2007 para medir a qualidade do aprendizado nas escolas por meio de indicadores como a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Os resultados são divulgados com certa transparência e cada escola também expõe seu resultado e a comparação com a média. O Ideb ainda traça metas de resultados até o ano de 2022 às quais todas as escolas devem perseguir.
A ideia é boa, mas deveria ser acompanhada por algum tipo de programa de valorização dos professores que conseguem qualificar as notas dos seus alunos (e, consequentemente, aumentar o nível do aprendizado deles) ao longo do tempo. Em algumas regiões onde houve salto de qualidade na educação como em Xangai, na China, e na Coreia do Sul, entre outras partes do Leste Asiático, foram estabelecidas políticas públicas eficientes para garantir o cumprimento dessa valorização do docente. Entre outros aspectos, é importante pensar em:
- Estabelecer padrões claros sobre diferentes qualidades de ensino (excelente, ótimo, bom, ruim e péssimo)
- Definir avaliadores externos à escola para observação da prática dos docentes
- Incluir ferramentas como feedback de alunos e avaliações aos professores para complementar o diagnóstico
- Estabelecer recompensas como progressão de carreira, concessão de bônus ou aumentos salariais para os docentes que atingirem metas específicas
- Determinar sanções em caso de contínuos desempenhos ruins
As boas práticas em educação, baseadas em pesquisas educacionais sérias e exemplos testados com sucesso em outras regiões podem ser utilizadas como ferramentas para a mudança no ensino no Brasil. Recentemente, mostramos porque a educação no Brasil tem o pior custo-benefício em todo o mundo. Uma alternativa é basear mais os investimentos em pesquisas científicas que comprovam a melhoria de resultados no ensino.
E para você, qual é a boa prática em educação usada na sua escola?