A importância de uma educação antirracista

Sumário

Você com certeza já deve ter ouvido a expressão “racismo estrutural” para se referir aos problemas raciais da nossa sociedade. O que você talvez não tenha ouvido é que só existe um caminho para desconstruirmos essa estrutura: a educação antirracista.

O termo racismo estrutural é usado para referenciar o fato de que a nossa sociedade possui práticas institucionais, históricas, culturais e interpessoais que frequentemente colocam um grupo êtnico em uma posição de vantagem, ao mesmo tempo em que prejudica outros grupos de modo consistente e constante.

Podemos citar vários exemplos dessa estrutura racista: a baixa presença de negros em posições de poder, a baixa representatividade de pessoas não-brancas na mídia, a frequente associação de elementos da cultura e religião africana ao mal e ao negativo.

São esses os cenários que a educação antirracista visa mudar.

educação antirracista

Por que oferecer uma educação antirracista?

Porque os números são alarmantes

Ao analisarmos os dados do IBGE 2018, percebemos como a educação ainda encontra dificuldade em chegar até os não-brancos:

Observando as informações sobre pessoas classificadas como pretas e pardas nesta pesquisa, podemos notar que:

  • A taxa de analfabetismo é de 9,1%. Contra 3,9% da população branca.
  • A proporção de pessoas com Ensino Médio completo é de 40,3%. Contra 55,8% da população branca.

Se olharmos o Relatório de Reprovação, Distorção Idade-série e abandono escolar, do Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEF, encontraremos mais dados alarmantes:

  • 453 mil brasileiros pretos e pardos abandonaram a escola em 2018.
  • Entre 9 e 13% dos estudantes de etnias pretas, pardas e indígenas foram reprovados em 2018.

Quando pensamos nas razões por trás destes números, um outro dado, obtido pelo INEP a respeito do Perfil do Educador na Educação Básica, pode ajudar a nos esclarecer: apenas 4,1% dos docentes são pretos, enquanto os brancos somam 42%.

É claro que existem outros fatores envolvidos, como a questão socioeconômica, por exemplo. Porém, o baixo número de docentes negros se reflete na capacidade da escola em dialogar com os problemas das crianças não-brancas, como identificar e punir situações de racismo, por exemplo.

Além disso, ao ter poucos modelos em que se espelhar ocupando posições de autoridade dentro da escola, a criança negra entende subliminarmente que aquele não é o seu lugar.

Porque é papel das escolas ofertar a educação antirracista

Com todos esses dados, podemos perceber que o racismo estrutural consiste em uma engrenagem complexa e cheia de ramificações. Justamente por isso, é necessário proteger aqueles que serão capazes de mudar essa situação no futuro.

Com um grande poder de absorção e compreensão do mundo à sua volta, as crianças assimilam desde cedo as mensagens passadas pelo racismo estrutural, o que pode levá-las a reproduzir comportamentos racistas, aprisionando a sociedade neste círculo vicioso por mais gerações.

Sendo assim, é papel da escola assumir a missão de quebrar esta corrente, trazendo a discussão em torno da educação antirracista para dentro da sala de aula desde a primeira infância.

Porque é lei

Muitas pessoas não sabem, mas a presença da educação antirracista nas escolas é amparada pela lei e prevista, inclusive, entre as metas do Plano Nacional de Educação:

“Meta 7.25: Garantir, nos currículos escolares, conteúdos sobre a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar ações educacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, assegurando-se a implementação das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com fóruns de educação para a diversidade étnico-racial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil”.

Uma das leis citadas no trecho é a histórica Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira e africana nas escolas.

Ela é considerada um marco, pois possibilitou a disseminação do pensamento sobre uma educação antirracista no Brasil. 

A partir de então, multiplicaram-se os números de iniciativas municipais e estaduais a fim de produzir mais material, capacitar mais profissionais e promover mais debates sobre o tema.

3 práticas que ajudam a oferecer uma educação antirracista

educação antirracista

Desnaturalização do racismo

É importante que práticas e gestos racistas, sejam grandes ou pequenos, passem a ser observados e tratados com a seriedade merecida dentro do ambiente escolar.

Isso só será possível caso o professor tenha sensibilidade e esteja familiarizado com o tema. Só assim ele conseguirá perceber o racismo que pode se esconder através de um comentário, expressão ou gesto, e mostrar aos alunos de forma didática porque esse comportamento não é aceitável.

É através dessas pequenas desconstruções que a escola conseguirá a introjeção de um pensamento antirracista desde a infância.

Para entender melhor este assunto, leia nosso texto sobre a importância de trabalhar as competências socioemocionais dos alunos.

A utilização da cultura negra e da cultura africana/afrodescendente

Desde que passou a ser amparado por lei, o ensino da cultura afro-brasileira e africana nas escolas tem sido abordado sobretudo em aulas de história, artes e literatura.

Porém, é possível expandir esse universo para que os alunos tenham a compreensão real do impacto dos negros na formação da sociedade e na criação do conhecimento.

Por exemplo, a origem da matemática é comumente vinculada aos Gregos, porém, 3.000 anos antes de Cristo, os egípcios, no Norte da África, já usavam cálculos para construir as pirâmides. 

Trata-se de um exercício de resgate de memórias e de rever a maneira como contamos e compreendemos a nossa própria história.

O envolvimento de todos os profissionais, pais e comunidade

É importante que a escola traga o tema do racismo para debate, inclusive abordando acontecimentos da própria sociedade.

“Pensemos uma escola localizada na periferia da capital paulista, onde muitos jovens negros são assassinados pela polícia ou uma criança negra precisa levantar a blusa ao entrar em uma loja para mostrar que não está roubando. Se esta instituição está em parceria com o território, olha o que está acontecendo ao seu redor e reconhece os sujeitos e a realidade local, ela precisa colocar essa questão no seu currículo. O racismo deverá ser necessariamente discutido dentro da sala de aula, em vários componentes curriculares, e a escola vai desenvolver ações para enfrentar esse estado das coisas”, disse a professora doutora da Faculdade de Educação da USP, Iracema Santos do Nascimento, em entrevista ao Portal CENPEC.

Também é importante que a escola dialogue com os pais e responsáveis, para que estes debates e ensinamentos continuem a ser estimulados e repassados dentro de casa.

Conheça a Prova Fácil e tenha acesso a mais conteúdo

Gostou deste conteúdo? Nós da Prova Fácil preparamos um Kit com vários materiais que vão te ajudar ainda mais a trabalhar essa temática. O “Kit por uma educação antirracista” contém um ebook teórico e muito interessante que discute essa abordagem; um conjunto de dicas de materiais midiáticos pra se usar em sala de aula, além de lindos cartazes para você imprimir, colar, distribuir e espalhar a mensagem!

Baixe já clicando no banner abaixo:

educação antirracista

Compartilhe este conteúdo:

Posts relacionados:

Inscreva-se em nossa Newsletter

Toda semana dicas e conteúdos educativos da Prova Fácil para você!