A crescente mudança do processo educacional faz os especialistas se questionarem sobre as avaliações do futuro. Se até pouco tempo atrás somente provas eram aplicadas, hoje o ensino adaptativo se tornou a referência. No entanto, a modificação para esse cenário exige um cuidado maior para garantir as prerrogativas preconizadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O ideal é focar os feedbacks personalizados e frequentes, a fim de ajudar os estudantes a alcançarem um nível maior de aprendizado. De quebra, a instituição de ensino chega ao topo, porque passa a ser reconhecida como de qualidade.
Como alcançar esse patamar? É preciso contar com práticas baseadas em dados na educação. Para explicar melhor o contexto, neste post vamos mostrar a importância dessa medida e as instituições brasileiras que já aplicam essa ideia.
O auxílio dos dados para o processo educacional
A mudança do sistema educacional nos últimos anos foi significativa. Antes, havia pouca preocupação com os resultados dos alunos. Em alguns casos, eles eram aprovados mesmo sem terem condições para isso.
Com a necessidade de mudar o cenário, a preocupação com os feedbacks constantes é uma prerrogativa essencial. Para ter uma ideia, o Plano Nacional de Educação (PNE) foi aprovado em 2014. Nele estão dispostas 20 metas a serem cumpridas até 2024. No entanto, boa parte delas já se tornou um fracasso.
Um estudo mostrou que 80% delas estão distantes de serem completadas até o prazo. O percentual representa 16 metas estagnadas. As outras quatro têm cumprimento parcial. Alguns dos objetivos ignorados são:
- média para o Ensino Médio do Ideb, que deveria ser de 4,7 em 2017, mas estava em 3,8;
- frequência de 100% dos estudantes entre 15 e 17 anos, mas em 2018 eram 91,9%;
- acesso a todas as crianças entre 4 e 5 anos à pré-escola, mas a taxa de escolarização era de 93% em 2017;
- meta de 93,5% da população de 15 anos ou mais estivesse alfabetizada, mas o índice é de 93,2% — o que representa 11,5 milhões de jovens e adultos;
- formação superior para 100% dos professores, mas, em 2018, era de 62% para o Ensino Médio e 52% para o Ensino Fundamental.
Outros dados preocupantes para o Brasil são a ocupação do 63º lugar do PISA, avaliação externa que verifica o aprendizado. Além disso, foram perdidos R$ 16 bilhões em 2016 com a reprovação escolar de 3 milhões de estudantes.
Como mudar esse cenário? É preciso ter uma atenção personalizada e cuidadosa. É assim que os alunos apresentam melhor desempenho, conforme análises e observações já realizadas. Dessa forma, é possível oferecer um modelo de ensino diferenciado e que atende às necessidades educacionais de todos os educandos. Além disso, os dados interferem em vários aspectos, como:
- acompanhamento pedagógico: fornecem insights sobre a performance de turmas e alunos, o que permite identificar pontos fortes e fracos. A partir disso, os conteúdos são fortalecidos e o PNE é cumprido, já que estabelece o acompanhamento individual;
- avaliação docente: geram relatórios para medir a qualidade das questões e sua aderência à matriz de conteúdo da instituição;
- avaliações externas: seguem a padronização dessas provas, como Enem ou Enade, e registram o histórico escolar;
- qualidade da instituição: permitem comparar os dados com o desempenho das instituições para identificar forças e fraquezas. Assim, a gestão é direcionada para processos mais efetivos;
- processo seletivo: indicam como está o mercado a ser alcançado, os perfis e as regiões mais interessadas. Desse modo, é possível traçar ações mais acertadas;
- marketing da instituição: favorecem o treinamento dos alunos por meio de simulados online e presenciais. Com isso, a equipe de marketing elabora campanhas mais efetivas e específicas.
As novas tecnologias e as avaliações do futuro
Os dados são importantes aliados da transformação digital no ensino. A aplicação de ferramentas de machine learning, cloud computing e Big Data, por exemplo, permitem impactar as metodologias de aprendizagem e melhorar os processos internos. Como consequência, auxilia na construção do conhecimento dos estudantes.
A ideia é transformar a docência com a adoção de práticas do professor 3.0. Como fazer isso? Por meio da coleta de dados. Com a ajuda do Big Data e de softwares de gestão de provas, você tem acesso aos resultados coletivos e individuais. Eles sinalizam o caminho a seguir na hora de traçar planos de aprendizado.
É assim que se torna possível efetivar a aprendizagem adaptativa. Também foi assim que a Georgia State University melhorou seus resultados. Com a ajuda das tecnologias, foi possível melhorar os resultados dos estudantes e reduzir a ausência em 22%. De quebra, houve mais potencial dos educandos de entrarem na universidade.
Como isso acontece no Brasil?
As três instituições de ensino brasileiras que já estão preparadas e aplicam as avaliações do futuro são a Universidade Tiradentes (UNIT), o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e a ESPM. Veja os dados de cada uma delas.
Provas no Chromebook
A UNIT é a primeira instituição de Ensino Superior de Sergipe. Existente há mais de 55 anos, é uma das principais do Nordeste, com 80% do professorado composto por mestres e doutores. Atualmente, oferece mais de 60 cursos de graduação, 10 MBAs e seis programas de pós stricto sensu. Para manter a estrutura, a IES foca a qualidade do ensino. Para isso, tornou-se a primeira Universidade de Referência Google for Education.
A ideia foi incluir as tecnologias ao processo de ensino-aprendizagem. Assim, implementou wi-fi em todos os espaços e investiu no Google Suite para Educação como uma extensão da sala de aula.
Junto a isso, capacitou professores e apostou no Chromebook como dispositivo principal. O projeto era grande, já que a UNIT tem mais de 30 mil alunos e 700 professores. Em três meses, já havia a adesão de seis mil alunos.
A IES recebeu a certificação porque 78% dos alunos e professores já usavam o Google Suite e Chromebooks. Além disso, 10% dos docentes foram certificados Educador Google Nível 1 e 5% em Nível 2.
Em 2018, 12 mil provas foram aplicadas pelos dispositivos. Isso também foi possível graças ao software de gestão Prova Fácil, que permite elaborar as avaliações a partir de um banco de questões inteligente. A diagramação, correção e revisão são automáticas.
O resultado foi o aumento da qualidade do ensino e a melhoria do desempenho dos alunos. Segundo o gerente de tecnologias educacionais da UNIT, Lucas Cerqueira do Vale:
“O sistema de gerenciamento da avaliação é um ponto crucial hoje, porque, além de otimizar os processos, conseguimos saber exatamente quais são os pontos de déficit de aprendizagem, o que precisamos corrigir, onde o professor pode melhorar, o que deve ser enfatizado. E no momento que aplicamos a avaliação já temos esse resultado por gráfico, com um relatório de avaliação de desempenho dos nossos alunos”.
Por sua vez, o diretor de Inteligência Competitiva do Grupo UNIT, Domingos Sávio Alcântara Machado, destaca que “ao olhar pro futuro, uma certeza a gente tinha: que nosso sucesso não iria se repetir se continuássemos ensinando da mesma forma. Reconhecemos que a tecnologia é uma estratégia para melhoria da aprendizagem do aluno. E isso ficou mais evidente quando vimos que 42,5% do uso da rede wi-fi da IES era para buscas no Google. E ⅔ dos alunos diziam que gostariam de usar a internet como ferramenta de aprendizagem na sala de aula e que o professor deveria usar dispositivos tecnológicos como instrumento pedagógico”.
Team-Based-Learning
A universidade corporativa do Albert Einstein usa a metodologia Team Based Learning (TBL), uma das prerrogativas para implementar a avaliação do futuro. Dentro dessa proposta, os alunos são divididos em equipes com seis a oito pessoas e são simulados diferentes cenários.
As questões são criadas com a ajuda do software de gestão de provas. Elas são aplicadas e o docente consegue avaliar os estudantes a partir de alguns princípios, como:
- capacidade intelectual individual e em grupo;
- responsabilização pelo pré-aprendizado e trabalho em equipe;
- estímulo ao aprendizado e ao desenvolvimento da equipe;
- oferta de feedbacks frequentes e imediatos.
O objetivo do TBL no Einstein é preparar os estudantes para atuar dentro dos ramos da medicina e da pesquisa. Para alcançar esse patamar, todas as aulas têm avaliações. Elas seguem a seguinte sequência de atividades:
- estudo de material encaminhado previamente;
- avaliação em grupo e individual, com feedback imediato antes da discussão dos casos;
- aplicação de conceitos em casos e contextualização do conteúdo.
A correção dos exercícios propostos é automática pelo software e a nota é repassada para o professor de maneira rápida. Desse modo, são identificados deficiências, gargalos e necessidades de melhorias.
Segundo o professor do curso de Medicina, dr. Welbert Oliveira Pereira, o Einstein valoriza os métodos ativos de ensino. Além do TBL, outras estratégias também são utilizadas. O motivo dessa escolha é oferecer conteúdos “mais robustos, que garantem mais sucesso no processo cognitivo do aluno”.
Ao final, o aluno tem um aprendizado maior, consegue conectar ideias com as práticas rotineiras e tem uma formação mais consolidada.
Assurance of Learning
A metodologia usada é a Assurance of Learning (AOL). Nela são efetivados cinco estágios:
- definição dos resultados de aprendizagem: refletem os critérios nacionais, individuais e profissionais das instituições;
- mapeamento curricular: identifica oportunidades para desenvolver as competências de acordo com a progressão dos estudantes;
- coleta de evidências: evidencia a conformidade com órgãos internos e externos, a fim de garantir o melhor desempenho possível;
- fechamento do ciclo: estimula os alunos por meio de discussões reflexivas e críticas;
- benchmarking externo: compara os resultados com outras instituições de ensino que oferecem cursos ou têm níveis semelhantes.
No caso da ESPM, a ideia é mensurar as habilidades, as competências e o conhecimento dos alunos sobre a disciplina. As avaliações também são elaboradas por um software de gestão de provas, de acordo com os parâmetros definidos pela instituição.
A avaliação do conhecimento retido ocorre a cada dois semestres. As questões das provas são relacionadas às competências que o aluno deveria ter adquirido ao longo dos semestres. Elas são randomizadas de forma a cobrir todas as habilidades e competências, e também para manterem os testes em nível de dificuldade equivalente.
Assim, a medição é feita no início e no final do curso. Além disso, é feita uma análise estatística do curso. Com esses dados, é possível traçar ações mais efetivas, que ajudam a alcançar melhores resultados.
Com os cases das instituições de ensino brasileiras, você sabe o que deve fazer para se preparar e aplicar as avaliações do futuro. Perceba que, em todos os casos, é preciso contar com a tecnologia. Dessa forma, o sistema coleta e armazena os dados e oferece uma visão mais clara dos processos internos.
Agora que você entendeu a importância de mudar o sistema de avaliações, que tal se aprofundar mais no assunto? Veja por que é importante integrar os dados acadêmicos e administrativos para ganhar tempo na gestão do ensino.